Edição de 12-03-2009
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SECÇÃO: Opinião

O médico e o homem (IV)

Já no Algarve, não podendo ocupar as funções de médico do partido municipal de Lagoa, por ao tempo esse lugar se encontrar ocupado por outro colega mais velho, concorre para o concelho de Monchique, onde inicia verdadeiramente a sua vida clínica na nossa região.

Em Monchique não tem mãos nem tempo para acudir a todos os que o solicitam e dele necessitam. Desdobrar-se na assistência aos doentes conforme pode e sabe. O dia e a noite combinam-se de tal maneira que não conhece repouso, tal a carência em assistência médica no concelho.

A sua actividade como clínico deu-lhe acesso ao vivo a um universo humano impressionante, feito de pobreza, sofrimento, cansaço, trabalho e desilusão, mas igualmente de esperança e solidariedade.

As grandes dificuldades, os casos clínicos complicados, os partos com todos os seus quês de incerteza e variabilidade de apresentação, ainda a juntar os aldeões que na doença só à última hora decidem chamar o médico, tudo isto, e não é pouco, o Dr.António da Luz Silva enfrenta com lúcida coragem, determinação e saber, e muito continuado estudo, pois um médico que se preze nunca realmente deixa de estudar, estudar sempre. Repetirá em múltiplas ocasiões a quem lhe mostre desejar vir a ser clínico e mais tarde também as suas filhas que “o médico é sempre médico a vida inteira”.

No seu tempo de actividade, um médico nunca poderia esperar por uma reforma apetecida, pelo descanso absoluto e completo, por passar tranquilo as tardes, aos sábados e aos domingos, e recolher-se em casa às noites invernosas e frias, envolvido em roupão e enfiando os pés em sapatos de ourelo. Tinham de trabalhar, continuar a trabalhar e aguardar a todo o momento que o viessem chamar. Era assim.

Conhece em Monchique por esse tempo aquela que viria a ser a esposa dedicada de toda uma vida e mãe das suas filhas, a senhora D.Francisca Teresa Nunes Nobre Amado Silva, prendada jovem com quem viria a consorciar-se, e que ainda hoje saudosa, recolhida na sua casa vive a memória do marido.

No entanto, as visitas a Lagoa repetem-se com frequência.

O desejo de se estabelecer como clínico na sua terra natal aumenta de dia para dia e realiza-se por fim. Após sete anos de permanência em Monchique, vila a que toda a vida devotará particular estima e que nunca deixará de visitar e nestas visitas continuar a ser prestável aos seus “primeiros” doentes, a maioria das vezes sem qualquer retribuição, transferirá a sua actividade para o concelho onde nascera.

Em Lagoa, monta consultório num primeiro andar de um prédio, hoje já demolido, na Rua Coronel Figueiredo, frente ao Mercado Municipal, nos nossos dias o antigo centro da cidade que por essa época ainda era vila. Aqui exercerá clínica até ao fim dos seus dias, sem férias praticamente, sem descanso poderemos avaliar, tão arredio este andou da sua pessoa que alguns daqueles que ainda o recordam e foram seus doentes, referindo-se a esse tempo consideram que “O Dr. Silva se matava a trabalhar!”

Para o Dr. António da Luz Silva os seus doentes eram a “sua segunda família”!

Os dias correram. Os anos trouxeram-lhe a alegria de ver crescer e acompanhar os estudos das suas filhas. Os anos também lhe ofereceram motivos de satisfação profissional inesquecíveis. Porém, sempre debaixo de extenuante trabalho trouxeram-lhe cansaço, cansaço até à exaustão.

A clínica continuava. Não marcava horas de consulta, pois todo ele vivia numa febril actividade profissional.

Os doentes acorriam porque confiavam nele.

Acorriam porque o sabiam, ou naquele primeiro andar do seu consultório, ou em sua casa na Rua Marquês de Pombal, no seu gabinete onde passava as horas a actualizar-se através das várias revistas científicas inglesas ou francesa que assinava e consultando os tratados de medicina, cogitando simultaneamente inúmeras ocasiões em determinados casos clínicos que lhe surgiram e que aparentavam demasiada complexidade.

(continua)

Por: Varela Pires

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