SECÇÃO: Opinião |
O silêncio das palavrasA passagem dos anos acrescenta-nos muito. Creio que nos torna pessoas melhores. Acima de tudo, a idade traz-nos a sabedoria do silêncio. Já não se gastam as palavras. Poderosas e letais, as palavras ao serem ditas ganham vida própria. Envolvem, enredam, dominam e condicionam quem as ouve mas também quem as proferiu. Geram conflitos e guerras sangrentas. Afastam e aproximam. Fazem doer. Fazem amar… e através delas se constrói ou destrói toda uma vida. O tempo embora lentamente, conduz-nos a essa aprendizagem, quando, ao olharmos para trás, percebemos que apesar das mãos vazias, semeámos discórdias, causámos sofrimento, impedimos muitas vezes a paz e a alegria. Tarde mas por fim descobrimos que o silêncio das palavras tem ainda mais peso. Por nós acaba ali sobretudo o que é ruim. Não nos omitimos. Exercemo-nos mais incisivamente não alimentando dores alheias revestidas pelo ciúme, inveja e, quantas vezes, desespero. O silêncio é uma espécie de mergulho no mais fundo da nossa alma. Concede-nos a distância necessária e a procura da palavra certa. Agora sabemos que não temos de gastar palavras à toa, nem para vencer, nem para competir, nem para afastar a solidão, contudo, ainda nos falta gerir as palavras dos outros. As setas que incessantemente nos atiram e às quais se dermos ouvidos, nos podem fazer estremecer mas, que podem elas ao esbarrarem contra o muro que a ausência de retribuição ergue entre nós? Saber usar as palavras é mestria de poucos. Só muito sofrimento depois. Restam-nos ainda, todas aquelas que fazem surgir sorrisos, que trazem paz, que acrescentam conhecimento, alegria, serenidade. Resta-nos ainda, aquela velha e sábia máxima, as palavras são de prata mas o silêncio, esse, é de ouro. Por: Isabel do Valle |
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