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Edição de 15-05-2008
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SECÇÃO: Opinião

“Dizem que é uma espécie de ilusão…”

Há quem viva no seu mundo imaginário. No País “inventado” pela sua imaginação. Mas se ao poeta, como Camões, se permite “o relâmpago genial da fantasia”, ao político deve exigir-se lucidez na análise e na abordagem dos problemas reais do País real. Porque quem ignora o drama das pessoas, a situação difícil das famílias ou a gravidade laboral das empresas, ignora a solução para os problemas concretos da sociedade

Há políticos que se comportam como ficcionistas. Vivem o País como um “romance”. Entusiasmam-se com a sua própria imaginação. E, quando confrontados com a realidade concreta do povo, com os seus problemas e as suas legítimas aspirações, utilizam a fórmula subtil e filosófica de “pensar ao lado”, ignorando com facilidade os dramas de quem sofre, de quem não tem trabalho, de quem está doente, de quem precisa de ajuda ou de solução para a dureza da sua própria vida.

Quando hoje se fala em “divórcio” entre a classe política e o povo que a elege, fala-se naturalmente em crise da democracia. Porque parece existir uma separação entre dois mundos diferentes. O mundo optimista de quem tem o poder e o mundo pessimista de quem sofre dia a dia a falta de confiança numa vida melhor.

Aliás, o discurso cor-de-rosa de uns contrasta com a vida negra de outros, porque se uns vivem iludidos com a ilusão do poder, outros vivem bloqueados pela própria realidade que os cerca.

E é a separação destes dois mundos que torna a vida mais insegura, que torna a sociedade menos harmoniosa e a democracia mais imperfeita. Daí a importância da “disciplina crítica”, que alguns aceitam mal e outros fingem não entender.

Se é verdade que “a ideia é distinta da imagem”, convém dizer que, hoje em dia, não se discutem ideias, cultivam-se imagens. E, por isso, por falta de debate cultural, doutrinário, ideológico, não tem evoluído a biblioteca do pensamento político. Aliás, ao político exige-se mais uma boa imagem do que uma boa ideia para o País.

Curiosamente, aquele que não consegue retocar a imagem convenientemente, de modo a “seduzir” o eleitorado, por muitas boas ideias que tenha, tem dificuldades de afirmação no universo político e social em que se movimenta.

Desde há muito que os próprios partidos, que sustentam o sistema, puseram de lado as doutrinas, os princípios, as ideias, as convicções, transformando a ciência política num mero ramo do marketing e da publicidade ao serviço das tácticas e dos jogos de poder.

Por isso, são confusos os tempos. Há uma crise de valores nas sociedades actuais e não triunfam os que vivem no meio do povo e com o povo, mas os que mantêm a distância necessária para “pensar ao lado” e que só descem à terra nos períodos eleitorais para pedir o voto em troca da promessa que ninguém sabe se será cumprida.

Há um “País fictício”, criado pela imaginação e pela conveniência política, e um País real, com os seus dramas prolongados e a sua insatisfação permanente. Logo, continuamos a ser um País de contrastes e de contradições, com as desigualdades a crescer.

A democracia aprofunda-se com a cidadania, com a educação cívica, com a participação social. Quando se limitam a participação e a consciência crítica, limitam-se as soluções democráticas para os problemas sentidos e vividos pelas populações.

Quando se fala em reformas estruturais, tão necessárias ao desenvolvimento do País, por que não se reforma estruturalmente a vida política?

Quem receia o debate de ideias?

Não há reformas sem as pessoas e sem a discussão clara dos diferentes projectos políticos.

Por: Luís Monteiro Pereira

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