Cancioneiro Tradicional Português apresentado
Memória colectiva do povo está bem defendida
Constituiu um momento alto para a preservação da oralidade, em particular e para a cultura em particular a apresentação, no passado sábado, na Biblioteca Municipal de Albufeira do Cancioneiro Tradicional Português, uma obra da autoria de José Ruivinho Brazão e Nelson Conceição, cujas recolhas foram efectuadas na freguesia de Paderne
A sala de sessões da biblioteca foi exígua para albergar todas as pessoas que compareceram para assistir ao evento. Muitas delas, mesmo em pé, não deixaram de fazê-lo.
Ao contrário do que é usual a sessão iniciou-se com a actuação do grupo de Cantares “Moças Nagragadas” que interpretaram algumas das canções incluídas no livro.
A apresentação do livro fez-se de forma habitual com a constituição da mesa, presidida por Desidério Silva que foi acompanhado pelos autores do livro, José Ruivinho Brazão e Nelson Conceição, Professor Pedro Ferré, vice-reitor da Universidade do Algarve, Professora Maria José Barriga e Drª Marta, da Editora casa das Letras.
Entre o público estiveram presentes Ana Passos, em representação do Governador Civil de Faro e ainda representantes da Delegação Regional da Educação e da Delegação do Ministério da Cultura.
Deixar uma memória escrita aos jovens
Desidério silva, como anfitrião foi o primeiro orador e começou por dizer, referindo-se às Moças Nagragadas: “Contacto com estas pessoas há muitos anos e já as ouvi actuar dezenas de vezes. Nasci perto da casa do Dr. Ruivinho Brazão e por isso conheço-o desde menino. O Nelson é um excelente acordeonista que entrou em boa hora para este grupo. Este Cancioneiro Popular Português é o resultado de recolhas feitas nas freguesias de Paderne e Boliqueime onde eu nasci.
Este é um dos momentos em que um autarca tem o privilégio de estar, no momento certo, perante um trabalho extraordinário feito com muita vontade e gosto, além de alguns incómodos também. Merece por isso o reconhecimento das autarquias, até porque esta instituição zela pela valorização da cultura do que é mais genuíno e do que temos de melhor.
Se não preservarmos o que é nosso, então poderemos não deixar uma memória escrita onde as crianças possam descobrir a nossa identidade. A nossa língua e as nossas raízes podem ser memorizadas e ficar para um futuro se para isso incentivarmos obras como esta.
Quero dar os parabéns a estas senhoras pelo empenho e trabalho na colaboração deste projecto, assim como ao Nelson e ao Dr. Ruivinho Brazão que são os responsáveis por todo este processo, não esquecendo o António Alberto.
Enquanto for presidente da Câmara farei todo o possível no sentido da cultura ser cada vez mais um tema de referência. Pode não se ver em termos de obras mas é uma forma de valorizar os cidadãos”.
Terminou dizendo: “Esta autarquia está na primeira linha na defesa das nossas raízes e da nossa cultura”.
Abrem-se os olhos para este tesouro
O Professor Pedro Ferré, vice-reitor da Universidade do Algarve falou objectivamente sobre a importância destes trabalhos sobre a tradição oral e mais adiante disse: “Esta obra é mais um degrau de uma longa escada da tradição oral em Portugal que já tem alguns anos. Já Almeida Garret se interessou por ver que onde se encontravam as verdadeiras relíquias portuguesas eram na tradição oral antes de serem corrompidas.
A tradição algarvia foi uma das mais ricas mas que não tinha sido devidamente explorada. Após a década de 80 abriram-se os olhos para esses tesouros escondidos e por isso apareceram alguns trabalhos de vários autores.
Felicito e acima de tudo, agradeço a homens como o Ruivinho Brazão pois graças a estas recolhas poderemos estudar com mais fidelidade estas “coisas”.
Aqui está uma parte de nós mas o que aqui se encontra é também o que existe na Galiza ou na Rússia. Não há nada mais universal que a nossa cultura tradicional popular”.
Terminou dizendo: “Agradeço este convite e coloco-me à vossa disposição para ajudar no que for possível”.
Importante para a nossa identidade oral
A musicóloga Maria José Barriga convidada pelo seu antigo aluno Nelson Conceição afirmou: “Vejo este livro como uma fonte muito importante para a nossa identidade oral. O cantar é um fenómeno formativo mas também comunicativo porque só existe se houver pessoas para ouvir e transmitir. Faz parte da identidade de um povo ou de um local, sendo importantíssimo as instituições e associações para a sua preservação. São estes pequenos elementos da nossa sociedade que desempenham um papel tão importante.
Cada localidade tem direito a ser ela própria e as rádios locais têm sido divulgadoras da identidade das várias regiões do nosso país através de recolhas em poesia e cantares tradicionais.
Felicito os autores destes documentos porque são muito válidos para o conhecimento do nosso passado, sendo ainda uma ferramenta essencial para as gerações que hão-de vir”.
Em representação da editora Casa das Letras, Drª Marta, começou por felicitar o Dr.Ruivinho Brazão e o Dr. Nelson Conceição pela obra publicada e justificou a aceitação da Editora porque já tinham publicado o livro dos Provérbios do mesmo autor.
Agradeceu às pessoas que também contribuíram para o lançamento da obra, nomeadamente à Câmara Municipal de Albufeira pelo apoio dado.
Dedicado às Moças Nagragadas
Um dos autores da obra, Nelson Conceição disse que não se sentia muito à-vontade a falar mas o certo é que falou: “Queria agradecer a todos os que contribuíram para a edição deste livro e também à Editora Casa das Letras, incluindo o Cancioneiro de Faro e a outros grupos folclóricos que possam através deste livro “explorar” mais os cantares tradicionais.
É pena que alguns grupos algarvios interpretem temas que não são da nossa região quando têm muito material algarvio para explorar.
Queria dedicar este livro inteiramente às Moças Nagragadas pois só com o seu contributo foi possível realizar esta obra. Espero que vivam muitos mais anos para nos transmitirem tudo aquilo que sabem”.
Albufeira privilegia a cultura
Encerrou as intervenções José Ruivinho Brazão e ao contrário do que é habitual foi breve no seu discurso: “O meu agradecimento à Câmara de Albufeira pelo apoio, bem como ao Governo Civil de Faro onde temos encontrado um grande acolhimento. Albufeira privilegia a cultura e aqui registam-se estas “coisas” bonitas.
Também agradeço à Universidade do Algarve pois o trabalho desenvolvido na área da investigação é fundamental. Para nós tem sido um incentivo muito grande.
À Direcção Regional de Educação os meus agradecimentos porque tem estado sempre connosco no contacto com as crianças e os adultos.
O património da oralidade colhido no terreno municipal de Albufeira provoca um eco extraordinário nos adultos, nos jovens e nas crianças.
Andamos nos vários municípios, também vamos às escolas e desde sempre tivemos apoios dos mesmos.
O nosso agradecimento ainda para a Delegação Regional da Cultura onde fomos sempre bem atendidos. O livro está aqui e poderá ser utilizado”.
A sessão terminou da melhor maneira com a actuação do Grupo “Cancioneiro” do Rancho Folclórico de Faro que interpretou mais dois trechos em conjunto com o grupo “Moças Nagragadas”.
Por: Arménio Aleluia Martins
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