Edição de 18-11-2010
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SECÇÃO: Reportagem

Felismena Pinto e Dominique Palma descerrando o painel
Felismena Pinto e Dominique Palma descerrando o painel  Clique na imagem para a aumentar.
Homenageada a abrir a Semana de Evocação

Diamantina Negrão já tem o nome na escola onde é patrona

A professora Diamantina Negrão, patrona do agrupamento de escolas com o seu nome foi homenageada, durante a 1ª Semana de Evocação que teve lugar na Escola EB 2, 3, situada em Montechoro, onde na entrada da mesma foi colocado o nome da patrona e no interior do edifício descerrado um painel de azulejos denominado “Cabra Cega” uma das muitas obras de arte da autoria da multifacetada artista e que foi oferecido pela anterior directora da Escola, Felismena Pinto, a quem se deve a indicação da Diamantina Negrão para patrona da escola.

Entre as muitas entidade presentes nas cerimónias estiveram o director regional de Educação, Luís Correia, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, coordenora das bibliotecas do Algarve, Filomena Branco, directora do Centro de Formação de Professores, Filomena Rua, vereadora da Cultura da Câmara de Albufeira, Marlene Silva, presidente da Junta de Fregueia de Olhos d’Água, Indaleta Cabrita, directoras de quase todas as escolas do concelho e naturalmente directores, professores e alunos da Escola Diamantina Negrão.

A sessão solene teve lugar no auditório. Na mesa presidida por Dominique Palma, director do agrupamento vertical, estiveram o director regional de Educação do Algarve, Luís Correia, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo e presidente da Junta de Freguesia de Olhos d’Água, Indaleta Cabrita.

Agradecimentos especiais a Felismena Pinto

O professor Dominique Palma depois de agradecer a presença das entidades oficiais e professores afirmou:

“O motivo que nos traz à escola sede do agrupamento de escolas Professora Diamantina Negrão é a homenagem que esta comunidade quer prestar à sua patrona dando a conhecer melhor a sua vida artística.

Por proposta duma equipa desta escola no ano transacto, decidimos organizar uma semana de evocação à sua patrona que coincidisse com a sua data de nascimento, mostrando algumas das suas obras e trabalhos realizados pelos alunos.

Nessa sequência tivemos algumas conversas entre os professores, nomeadamente a professora Felismena Pinto que manifestou desde logo muito interesse em participar neste evento. De uma forma muito generosa doou à escola um painel de azulejos da autoria da prof. Diamantina Negrão. A grande responsável pela atribuição da patrona Diamantina Negrão a esta escola foi a Felismena Pinto que após a inauguração da escola em 1998 tomou as diligências necessárias para que tal acontecesse.

Para além da oferta do painel empenhou-se afincadamente nesta homenagem.

Para que tudo isto fosse possível também tivemos a colaboração de outras entidades, nomeadamente a Caixa de Crédito Agrícola que custeou a aquisição do material para montar o painel, a Câmara de Albufeira que financiou a placa com o nome da escola e Junta de Freguesia dos Olhos de Água que colaborou na parte da cerimónia.

Queria também deixar uma mensagem de confiança aos pais e encarregados de educação dizendo que podem contar com esta escola para formar cidadãos competentes, responsáveis e prepará-los para enfrentarem os desafios que os espera”.

A necessidade aguça o engenho

O vice-presidente José Carlos Rolo começou por deixar algumas sugestões:

“Talvez pudéssemos fazer uma exposições temporárias dos espólios que as escolas têm e assim poderíamos fazer história.

É extremamente importante termos aqui a presença de todas as pessoas que representam este agrupamento incluindo, além do pessoal docente e não docente, pais e alunos.

Conheci a professora Diamantina Negrão quando se fez uma exposição do pintor Samora Barros em 1985, altura em que a Escola Secundária se iniciou e onde ela fazia parte da comissão organizadora”.

Quando se escolhe o nome de uma patrona para uma escola certamente pensamos que as qualidades dessa pessoa o merecem. Não seria a pessoa mais indicada para falar da prof. Diamantina Negrão mas quando soube desta iniciativa desde logo aceitei de bom grado.

Pensámos lançar um projecto às várias escolas para se fazer um livro sobre a toponímia de Albufeira. Por exemplo ao falar na rua Gil Eanes os alunos poriam nessa página uma foto da rua, a sua localização e um texto sobre essa personagem. Para isso teriam que fazer pesquisas, o que seria bastante importante para a sua formação académica.

Uma das prioridades do município é o incentivo à criatividade e se calhar mesmo com poucas verbas se poderão fazer coisas interessantes. Muito se pode fazer pois a necessidade aguça o engenho. Com imaginação certamente esta escola e outros agrupamentos do concelho irão primar por tudo o que pretendem fazer”.

Todos devemos ter memória

O Director Regional Luís Correia revelou não conhecer a vida e obra de Diamantina Negrão e esperava sair de Albufeira mais bem informado.

“É um prazer estar presente nesta singela e justa homenagem à patrona da escola.

Apraz-me registar que foi uma senhora merecedora pelas boas obras realizadas, além de que é natural de Albufeira.

É bom que em cada terra não se esqueçam os seus naturais que contribuíram para o desenvolvimento da própria cidade. Elas próprias fizeram para que a terra seja maior.

Albufeira cresceu muito nos últimos anos mas também com o contributo de muitas pessoas que souberam desenvolvê-la e torná-la um local melhor. Portanto Diamantina Negrão certamente ao lutar tanto pela educação mereceu bem este destaque.

Outra nota que vos queria transmitir é a questão da memória e dos valores.

É bom que arranjemos metodologias para que estas pessoas que são referências da nossa escola sejam transmitidas ao conhecimento dos nossos alunos. Todos nós devemos ter memória e não apagar aquilo que foi importante e foram marcos da nossa história.

É com muito prazer que estou nesta cerimónia e quero transmitir a todos vós o desejo de bom trabalho nesta escola”.

Estaremos sempre à disposição

Encerrou o período a presidente da Junta de Freguesia dos Olhos de Água, Indaleta Cabrita que afirmou:

“É com agrado que vejo a presença de alguns alunos mostrando que começam a participar nestas cerimónias.

Foi com alegria que recebi o convite para estar aqui enquanto presidente da Junta de Freguesia dos Olhos d’Água.

Quando me foi apresentado este projecto pensei na maneira de contribuir para que ele fosse uma realidade. Depois de alguns encontros, desde logo nos propusemos colaborar e sempre que possamos assim faremos pois a Junta de Freguesia sente-se responsável pelos 440 alunos que frequentam este agrupamento. Estaremos sempre à vossa disposição”.

É uma obra pertença de todos nós

Renovada a mesa com a entrada de Felismena Pinto, Luísa Monteiro e Francelina Lourenço, foi a primeira a falar da homenageada.

“Todos sabem que Diamantina Negrão foi freira, pintora, escultora, poetisa e professora na Escola Secundária de Albufeira.

Em certos períodos da sua vida a realidade e a fantasia confundiam-se de tal forma que não se distinguiam.

Contactei com ela como colega na Escola Secundária e nessa altura conheci-a como mulher e artista. Das muitas conversas que tivemos tive uma certeza: era como um puzzle com muitas peças que ninguém conseguiu encaixar. Eram tão contraditórias que mudavam de forma com muita facilidade.

Saíu da escola para ir para freira onde ambém não se encaixou e acabou por ser excomungada. Finalmente regressou à sua terra e aí também não se encaixou.

Como artista, através da escrita, da pintura e da escultura a Diamantina libertava os seus pesadelos, tornando-se uma figura de relevo entre os naturais de Albufeira.

Ao procurar um patrono para esta escola em 1988 lembrei-me da Diamantina e de uma carta que ela escreveu e mandou publicar na “a Avezinha” no dia 28 de Outubro de 1986, a propósito de uma criança de onze anos.

Um dia fui a sua casa pedindo-lhe que aceitasse ser a patrona desta escola , não só pelas suas qualidades artísticas mas por ter sido ela a abrir o primeiro colégio em Albufeira onde os jovens poderiam continuar os seus estudos, sendo um sinal como ela já se preocupava com a educação.

Infelizmente ela não visitou a escola porque faleceu 2 meses depois deste nosso pedido.

Algum tempo depois uma colega a Esmeralda ofereceu-me uns painéis feitos pela Diamantina que seriam para decorar um restaurante e pintados no ano 1980.

Eram 5 painéis mas as peças estavam todas misturadas sem qualquer tipo de indicação para a sua montagem.

Na altura pensei reconstituir uma deles e trazê-lo para a escola. Comecei a juntar algumas peças mas desisti.

Fui adiando até quando me disseram que estavam a contar comigo para esta semana.

Então fiz uma parceria com a jovem Ana Marta Bastos que tem um curso de património cultural e em conjunto conseguimos reconstituir este painel. A limpeza final ficou a cargo da professora Dinah Quintino da biblioteca escolar.

Entretanto com a Francelina fomos descobrindo outras obras: em Quarteira encontrámos o busto do poeta pescador; um painel de azulejos na Fonte Santa e do seu espólio conseguimos ainda uma estatueta doada por uma senhora.

Ao doar à escola este painel de Diamantina Negrão quero despojar-me de uma obra de arte que é pertença de todos nós. Por conseguinte é meu desejo contribuir para que um ciclo de vida sincero perdure para além deste gesto singelo.

A obra regressa à sua origem mais profunda e torna-se pertença do nosso olhar colectivo.

Desejo que esta obra encontre eco nos nossos jovens. Obrigado a todos e particularmente à Diamantina Negrão”.

Dois dias muito felizes

A escritora e investigadora Luísa Monteiro a quem se deve a divulgação da vida e obra de Diamantina Negrão começou por dizer que trazia uma peça escrita mas iria falar de improviso.

Recordou a situação de há anos quando pretendeu efectuar um trabalho sobre as mulheres de Albufeira e recorrendo ao apoio do Arménio Aleluia este, entre vários nomes reforçou o da controversa artista e pedagoga.

“Com o objectivo de conversar com a professora já reformada, durante dias tentei falar pelo telefone. Senti alguma frustração mas fiquei a saber que tinha falecido dias antes. A partir daqui e contactando várias pessoas escrevi a peça dramática Bossy – A Física e Química de Deus que curiosamente foi apresentada nesta escola, tendo como intérpretes algumas das pessoas que se encontram aqui.

À medida que foi conhecendo a vida e obra desta mulher, melhor compreendi as suas inquietudes e as razões porque se sentia incompreendida em Albufeira”.

Sobre as suas manifestações hostis fez a comparação com Einstein que também tinha comportamentos pouco simpáticos, tanto na sua vida pessoal e escolar mas que não deixou de ser uma figura pública reconhcida mundialmente.

“Ontem, dia em que completaria 95 anos e hoje com a homenagem nesta escola são muito importantes para mim e como tal senti-me muito feliz. A partir de agora Diamantina Negrão ficará mais conhecida e a sua obra será apreciada”.

A sessão não terminou sem que um poema e parte do Diário de Diamantina Negrão fossem ouvidos nas vozes das professoras Laura Brás e Josefa de Lima.

Alunos homenagearam com esculturas e versos

Os alunos do agrupamento (jardim de infância, 1º, 2º e 3º ciclos) apresentaram os mais diversos trabalhos como pinturas e esculturas em barro sobre Diamantina Negrão, que estão expostos numa das salas da entrada do edifício da escola, onde foram exibidos também em teleponto as poesias sobre a homenageada.

O lanche convívio esteve a cargo dos alunos do curso CEF – Serviço de Mesa.

Por: Arménio Aleluia Martins

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