Isilda Gomes, governadora civil de Faro
“O nosso objectivo é reduzir, em 2008, a sinistralidade nas estradas algarvias”
Há pouco mais de seis meses que uma mulher representa o Governo de José Sócrates na região. Coube a Isilda Gomes iniciar esse ciclo que, espera, seja de maior participação das mulheres na política. Preocupada com a sinistralidade que manchou de sangue as estradas algarvias em 2007, quer diminuir o problema este ano. Outras prioridades são a requalificação da EN 125 e o início da construção do Hospital Central do Algarve
aAvezinha – Que balanço faz dos primeiros seis meses como governadora civil?
Isilda Gomes – Tem sido um trabalho extremamente estimulante e é um desafio permanente, sobretudo, porque posso desenvolver determinadas áreas que não sabia ser possível. Este cargo é também um pouco aquilo que desejemos fazer dele.
aA – O que destaca de mais positivo?
IG – A ligação com os membros do Governo, ao qual tenho transmitido alguns problemas da região, tem sido eficaz. Há uma abertura extraordinária e vontade de resolver os problemas e isso facilita-nos muito o trabalho. Também tem sido gratificante trabalhar nas áreas da segurança e de protecção civil. Implementámos um trabalho gradual de maior proximidade, coordenação e de ligação entre os diversos sectores. Têm-se feito muitas acções conjuntas com as forças e os serviços de segurança com resultados bastante positivos.
aA - Acha que conseguiu unir as várias forças de segurança da região?
IG – Considero que as forças de segurança sempre têm estado unidas no cumprimento das suas tarefas. No âmbito do Gabinete Coordenador de Segurança Distrital fazemos múltiplas reuniões, onde as acções são articuladas e o ambiente é propício à coordenação, porque os responsáveis têm dinâmica, vontade de inovar, de ultrapassar os problemas e de fazer mais e melhor. É uma dinâmica que eu registo com muito agrado, pois tem trazido mais-valias para a região e para o desempenho de cada uma destas forças e serviços.
aA – Que problemas da região já levou junto do Governo?
IG – Destaco, recentemente, a questão dos embargos em Vila do Bispo e Aljezur, na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV). Encontrei por parte do Governo grande vontade de resolver a questão. Na área da segurança, da protecção civil, sempre que coloco um problema ou faço uma proposta, sinto uma abertura total, como noutras áreas da governação. Esta postura facilita o trabalho de quem tem de dar a cara perante os cidadãos da região.
aA – Em relação aos problemas que colocou, já teve respostas concretas?
IG – Têm tido sempre uma resposta. Obviamente que não vou enumerar as diferentes conversas que temos tido, até porque este tipo de trabalho é mais de bastidores. Raramente é visível no momento seguinte. Quando intervenho é quase sempre em questões algo complicadas que fazem parte de processos que não são imediatos.
aA – Em relação aos embargos na zona da Costa Vicentina, são as leis muito restritivas que impedem que aqueles concelhos se desenvolvam?
IG – Não creio. O que se passa é que há loteamentos, aprovados há muitos anos, cujo alvará caducou. Depois de caducado, para ser renovado, e uma vez que já existia o PNSACV, era necessário o seu parecer. Como não foi pedido, obviamente que estas construções não podiam ser autorizadas. O Governo anterior enviou estes processos para o Ministério Público. Neste momento há, de facto, um problema mas tenho a informação de que grande parte dos embargos poderá ser levantada desde que seja pedido o parecer ao Insti” :tuto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB). Em muitos casos é apenas uma questão de cumprimento do estabelecido.
aA – Em relação às demolições previstas para as ilhas-barreira da Ria Formosa, há quem considere serem em número exagerado…
IG – Não tenho, neste momento, conhecimento do número de demolições. Mas constato que há boa vontade para resolver questões e ultrapassar problemas. Tenho uma grande confiança no meu Governo e acredito que serão demolidas apenas as que tiverem mesmo de o ser. Mas ainda não existem datas para as demolições avançarem.
aA – Quais são as suas perspectivas para 2008 na região?
IG – Uma grande preocupação é a sinistralidade nas estradas algarvias. É um problema grave e a grande conquista que quero alcançar em 2008 é a redução da sinistralidade rodoviária. Há também alguns projectos importantes para o Algarve, nos quais queremos ver dinâmica, nomeadamente em relação à requalificação da EN 125 – uma prioridade –, o Hospital Central e o Centro de Altos Estudos na área do turismo. Numa região eminentemente turística faz todo o sentido que preparemos altos quadros nesta área. A barragem de Odelouca é outro projecto consolidado e estruturante para a região.
aA – O que defende para o turismo?
IG - Considero extremamente importante o investimento privado. Em Julho foram anunciados 13 projectos PIN (Potencial Interesse Nacional), que são estruturantes para a região, pois prevêem unidades hoteleiras de grande nível e a criação de milhares de postos de trabalho. Tenho a expectativa de que em 2008 e 2009 todos estes projectos anunciados se concretizem. Outro objectivo é a consolidação dos bons resultados turísticos. O ano anterior foi excelente em termos de receitas e é bom que continuemos com este ritmo. Temos todas as condições para que isso aconteça. É importante referir que somos uma região segura. Apesar de muitas vezes vermos nos jornais notícias alarmistas acerca da segurança/ insegurança, os números não mentem e dizem que houve menos criminalidade violenta e menos crimes contra o património.
Também a última época de incêndios florestais teve um balanço positivo, a prevenção funcionou, as equipas trabalharam de forma coordenada, a primeira intervenção foi altamente eficaz e assim a área ardida foi muito reduzida.
aA – As baixas temperaturas terão contribuído também?
IG – Não tem só a ver com isso. Foi feito um estudo que comparou o número de incêndios em anos anteriores, com a mesma temperatura e no mesmo período, verificando-se anteriormente mais área ardida. Portanto não foi só o tempo que ajudou. Os nossos agentes de protecção civil funcionaram muito bem, houve um trabalho coordenado, organizado e eficaz.
aA – Relativamente à criminalidade, alguns casos registados no Algarve têm comparação com a violência do Porto e de Lisboa?
IG – Nem pensar! Nós não temos esses problemas e esperamos não vir a ter. Claro que não estamos livres, mas as nossas forças e serviços de segurança estão a trabalhar para que tal não aconteça. É minha convicção, podermos garantir aos turistas que nos visitam, uma região segura.
aA – Para que os bons resultados continuem na área turística, a aposta tem de ser na qualidade?
IG – Sem dúvida. Obviamente que não defendo que sejamos uma região elitista pois temos de estar preparados para receber todo o tipo de turistas. Mas agora precisamos de mais investimentos no sector da qualidade, porque ao nível da quantidade já temos. Acredito que os investidores vão continuar a procurar o Algarve.
aA – Para isso também é necessário que os processos de aprovação sejam menos burocráticos. Por exemplo, o presidente da câmara de Alcoutim diz temer que as empresas que querem investir no seu concelho procurem outras paragens porque esperam aprovações há anos…
IG – Há uma equipa governamental que acompanha esses projectos (PIN) tendo em vista maior celeridade na sua aprovação e avaliação. Reconheço que muitas vezes a morosidade dos processos pode afastar os grandes investidores.
aA – No final de 2007, como já referiu, deu muita atenção à sinistralidade. Conseguiu aquilo a que se propôs, ou seja, sensibilizar para a diminuição dos acidentes graves nas estradas algarvias?
IG – Penso que consegui alertar para o problema. Reconheço que não houve uma redução do número de acidentes, pois tivemos mais 22 vítimas mortais do que em 2006, mas acredito que é possível inverter esta realidade. Apesar de tudo este foi o segundo melhor ano, dos últimos dez, em número de vítimas na região e embora esse não seja um factor de regozijo – pois apenas uma vida perdida na estrada já é demais – significa que é possível alterar a situação. Por isso o nosso trabalho vai ser intensificado, no sentira:do de conseguirmos consciencializar todos os utentes das estradas para a necessária alteração dos comportamentos de risco. Nas várias campanhas de sensibilização e de repressão realizadas em 2007, recolhi indicadores que me permitem acreditar na possibilidade de travar estas mortes. O nosso objectivo fundamental é reduzir, em 2008, a sinistralidade nas estradas algarvias. O Observatório de Sinistralidade Rodoviária encara esse como um grande desafio e pretende obter resultados positivos.
aA – O que tem falhado? É o que estão a tentar perceber?
IG – A criação do Observatório de Sinistralidade Rodoviária tem precisamente esse objectivo. Analisar todas as circunstâncias que contribuem para o acidente. É um projecto recente que pretendemos intensificar no sentido de chegarmos a conclusões exactas e intervir onde é necessário. Neste momento sabemos que não podemos atribuir culpas apenas às condições da estrada porque a maioria dos acidentes não ocorre nos chamados pontos negros, (aliás há apenas três identificados e classificados como tal). E nesses vamos intervir rapidamente. Há um ponto que nos preocupa muito, na zona de S. B. Messines, onde já foi reforçada a sinalização vertical e vão ser colocadas provisoriamente bandas sonoras até ser construída a rotunda, que demora mais tempo. Há aqui variáveis que nos escapam mas não desistimos e vamos dar continuidade às acções de prevenção no âmbito da campanha regional de combate à sinistralidade, bem como na vertente pedagógica, junto das escolas do distrito, de forma a fomentarmos aquilo que é fundamental nos actuais e futuros condutores: civismo.
aA – Qual a sua opinião sobre a polémica relacionada com as urgências do Hospital Central de Faro? Os médicos dizem que o encerramento de alguns Serviços de Atendimento Permanente (SAP) aumentou o caos naquele serviço, onde os utentes são tratados sem condições…
IG – A reorganização na área da Saúde é necessária e desejável. Também tenho a certeza de que tudo está a ser feito para melhorar a oferta de serviços de saúde aos utentes. Tínhamos um problema grave com a falta de médicos de família; neste momento diminuiu-se significativamente esse número. Há mais equipas de apoio domiciliário e um maior número de camas para os cuidados continuados. Relativamente às críticas relacionadas com as urgências quero distinguir a qualidade dos serviços prestados, que não ponho em causa. Acredito que todos os profissionais estão a fazer o que podem para dar a melhor resposta. Também sei que o espaço físico das urgências não é o melhor, o que provoca problemas sérios, mas não existem piores cuidados de saúde neste momento no Algarve do que em anos anteriores.
aA – As urgências vão ser reorganizadas e ampliadas, mas acredita que o problema só ficará definitivamente solucionado com a construção do Hospital Central do Algarve?
IG – Acredito que todos estes problemas terão uma solução cabal com o novo Hospital Central. Até lá, vamos andar com alguns arranjos, alternativas, mas nunca serão as condições ideais. Até porque se elas existissem não seria necessário construir um novo hospital.
aA – Esta polémica pode prejudicar a imagem de uma região eminentemente turística como é o Algarve?
IG – Reconheço que não é uma boa imagem, mas compete-nos a nós e sobretudo aos responsáveis pela área da saúde, esclarecerem o que se passa. É isso que às vezes faz falta. Não vou dizer que os utentes que reclamam não têm razão, mas há situações que, quando esclarecidas, são melhor compreendidas.
aA – É a primeira mulher a desempenhar este cargo no Governo Civil de Faro. Já disse que a entristece o pouco investimento das mulheres na política. Este é um meio sobretudo de homens?
IG – A mulher tem tido muito poucas oportunidades para aceder a determinados cargos na política. Neste momento noto que há uma maior abertura. Já não vejo um machismo tão exacerbado na área política, embora também não haja um grande entusiasmo pela participação das mulheres. A política não tem de ser masculina ou feminina, mas sim política… Ainda sinto uma certa dificuldade por parte de alguns homens em aceitar que a mulher tenha as mesmas capacidades em política. Realço aqui a visão do Presidente do PS Algarve, Eng. Miguel Freitas, que tem vindo sucessivamente a criar espaço para uma participação cada vez mais activa da mulher na política. Quando se abrem portas às mulheres, elas dão conta da missão que lhes é entregue.
aA – Este é, até agora, o cargo mais exigente que já desempenhou?
IG – Não tenho qualquer dúvida em assumir que é um cargo muito exigente, com uma grande visibilidade e abrangência. Tem algum peso, porque não é fácil representar o Governo de José Sócrates. Todos conhecemos o seu empenhamento e o seu rigor. Por outro lado, o Algarve é uma região com uma dinâmica extraordinária e não é fácil acompanhar tudo o que aqui se passa. Tudo isto complica a nossa missão, mas também a torna mais interessante e estimulante. É um desafio permanente e é por isso que gosto muito do que faço. Claro que este é um trabalho de equipa, permitindo-me aqui realçar o excelente desem- penho da que me acompanha, o que também torna mais fácil a minha tarefa.
aA – O que podem os algarvios esperar da governadora civil em 2008?
IG – Uma grande proximidade, solidariedade, apoio, acompanhamento e sobretudo estímulo, para que os algarvios sintam orgulho da região que têm, que é dinâmica mas onde ainda há muito a fazer. E se já chegámos aqui, conseguiremos chegar muito mais longe, assim todos os algarvios queiram.
aA – Quais os acontecimentos que destacaria em 2007, na região, pela positiva e pela negativa?
IG – O pior foi o caso Maddie, sem dúvida, que marcou o Algarve pela negativa, ainda não teve resolução e continua a preocupar-nos. O melhor foi o anúncio de grandes investimentos na área privada e pública para a região, o que nos traz perspectivas de um desenvolvimento regional, como todos desejamos.
Por: Ana Isabel Coelho
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